06 dezembro 2010

dar um tempo

Vou ficar uma temporada sem olhar esta página. Estou vivendo mudanças grandes, que pretendo tornar ainda maiores. Para isso, preciso de algum tempo mais real, menos virtual. Desativarei a caixa de comentários. Os amigos saberão informar meu endereço. Talvez sirva de explicação e deleite os versos atribuídos a San Juan de la Cruz (que adapto livre de traduções várias):
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Pássaro Solitário
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Cinco são as condiçoes do pássaro solitário:
a primeira, que ele voe ao ponto mais alto;
a segunda, que não anseie por companhia -nem de sua própria espécie;
a terceira, que dirija seu bico para o céu;
a quarta, que não tenha uma cor definida e
a quinta, que tenha um canto muito suave.
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Obrigado. Até logo.

12 novembro 2010

ente

Faria eu uma coisa assim: deixar que a chuva caísse, o igarapé levasse, fosse bater no rio e eu fumando porronca na varanda maginando mar. Vida não quer e me dá trabalho. Aguento, tenho que aguentar. Vida manda.

Coisa é um ano, um número, 2010, tudo que nele cabe e o que se traz de antes ou empurra pra depois. Vou pensar, quem sabe até digo. Meu bisaco cheio –não de dinheiro-, sou aprendiz de quase tudo.

Preparo a posse de minhas renúncias.

07 outubro 2010

entreguerras

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Hoje bateu cansaço.

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Foi intenso: mexeu com sonhos adormecidos, mobilizou forças que pareciam esgotadas, fez reviver emoções quase esquecidas. Renovou um contrato que eu já julgava rompido, refez um compromisso que eu pensava extinto. Assim, buscando na memória da alma o que há de valor no passado, atualizou o presente, projetou um futuro. Mudou tudo.

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Quem fez isso? Uma força, aquela que sustenta essa pessoa indescritível, Marina, e move tudo e todos que estão ao redor, perto ou longe. Uma necessidade, a de recompor-se com o mundo, dar-lhe e dar-se nele algum trabalho enquanto existimos, ele e eu. Um amor, que afinal ainda não morreu, por estes seres tão humanos com quem compartilho a vida. E o desconhecido inexplicável tempo, quando chega –e chegou.

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Mas hoje olhei as ruas desta grande cidade, a pressa de sua gente, seu inigualável e intrincado mecanismo, e senti uma súbita ausência de barro e raízes. Meu olhar buscou em vão um chão com folhas e formigas. Meus pés desejaram caminhos conhecidos, em que eu possa andar olhando para o céu.

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Voltar à base, pensei. Meditar, mastigar, deitar na velha rede o novo tempo vivido, a nova batalha lutada, as novas lições aprendidas.

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Levar a mudança pra casa. Dormir com ela. Com ela acordar.

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12 setembro 2010

Primeiro turno

Linda cidade, São Paulo, apesar dela mesma. É certo que Marina vai dar um jeito, embora eu desconfie de que vai ser um trabalho bem demorado. Os dias estão limpos, com o sol recortando os edifícios contra um céu quase azul. Terei tempo de ver ao menos um filme -quem sabe este A Origem, cujo personagem central tem a profissão que sempre desejei, espião de sonhos- ou exposição de arte ou os poemas de Pessoa no Museu da Língua ou qualquer uma dessas tantas coisas interessantes que acontecem num universo paralelo ao da campanha eleitoral?
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Por enquanto, assim: saudade e lembrança de um Acre quente e enfumaçado, imagens de um mundo orgânico ressecando antes de se decompor, um cansaço discreto e descansado, sonhos com sereias e monstros, calma no olho do furacão, mágicas no metrô, conversas civilizadas, canções na alma.
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Vejo minha Terra neste final de semana, em que vou cantar parabéns para D. Nenem no seu centésimo aniversário. Depois, de volta à selva de pedra.
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Em busca de um segundo turno.
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16 agosto 2010

Sede sem sede

Meia noite, meio dia, o tempo de ver a Terra. Com o alívio de duas chuvas, a grama verde desponta por baixo do tapete de folhas secas pintado de amarelo, aqui e acolá, pelas flores que caem dos ipês. Mas o tempo é quente e ainda há fumaça encobrindo o céu. O açude pela metade. Os cajueiros entre flor e fruto, não sei se indo ou voltando, os passarinhos não respondem. E o ipê velho, no alto da Terra, domina e amplia a paisagem com sua luz de ouro que só se mostra nas grandes secas -como esta, como aqueloutra. A cacimba é boa e dá água limpa.
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Seco está o coração desse povo que encontro na cidade, com medo do olhar dos outros, com medo de seu próprio olhar. Marina é a medida de um esforço pela sanidade, é a parte que escapa do auto-engano, indulgência, oportunismo, hipocrisia, cinismo, todas as moedas em circulação no mercado da política. Os outros candidatos são bonecos, os que fazem campanha para eles também. Todo mundo sabe disso, mas a maioria busca na vitória eleitoral uma compensação para a derrota moral.
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Peçam-me água. Não me peçam voto.

Que só quando cruza a Ipiranga

Cansaço. A esta cidade tão grande cheguei após alguns dissabores: um avião que não sai de Rio Branco por causa da fumaça das queimadas, um pneu furado e um posto de gasolina fechado à meia noite na estrada de Porto Velho, outro embarque perdido, um hotel de pulgas, um vôo até Cuiabá, comida de aeroporto, outro vôo até chegar a esse trânsito confortável e a essa sequência tão agradável de reuniões. Mas não estou reclamando, Marina. Eu disse que podias desarrumar a vida velha, então taca ficha.
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Queria ter tempo e dinheiro para ir ao teatro, dar um passeio no Ibirapuera, ver um filme, comprar o Livro Vermelho do Jung que vi numa livraria da Paulista. Talvez na próxima, quem sabe. A cidade vai estar aqui, vai levar ainda muito tempo pra se desfazer, imagino. Uma boa cidade, São Paulo, não pra morar, é claro, mas pra escapar por uns dias, coisa que aprendi nos idos setentas quando a barra pesava em Brasília. Agora a barra pesa no Acre, no seco e fumacento verão eleitoral.
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Imagino a Terra na secura, as plantas morrendo de sede, o açude só a poça, nem duvido que o velho ipê tenha florado e desflorado. E eu no mundo.
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Em tudo por tudo, fico contente quando pergunto no taxi, na banca de jornal, no restaurante da esquina, em toda parte, e as pessoas me dizem que vão votar na Marina -em minha pesquisa sem qualquer rigor científico ela vai muitíssimo bem, obrigado, e nem dou bola para ibopes.
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Cansa um pouco, porém. Preciso dormir, amanhã tem mais. E por esses dias volto para ajudar os conterrâneos a soprar fumaça.
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Em trânsito

Marina, assim você me desarruma a vida. Além dessas viagens madrugada adentro e do trânsito fascinante de Sampaulo, tenho o desgosto de verificar que ninguém toma conta do Acre na minha ausência e a coisa fica uma bagunça. Fumaça de cortar com o terçado, já dava pra ver -pra não ver, aliás- do avião. Acho que o pessoal ouviu dizer que o "novo código" vai dar anistia pra incendiário. Um montão de coisa pra fazer, tudo pra lá de atrasado, duas moedas de 5 centavos no bolso, dívidas e dúvidas multiplicadas, as plantas morrendo de sede, caçadores invadindo a Terra atrás das capivaras... ah, se eu fizer a lista você vai ficar com dó. Pra completar, perdi a chave de casa -e talvez fosse melhor nem ter entrado pra não ver esse acúmulo histórico de desarrumações agora agravado pela mala desfeita às pressas.

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Mas valeu a pena. Deu gosto te ver cada vez mais elegante e afiada, estrela brilhando no céu do Brasil, arrastão de esperança, superação permanente, professora do essencial, cuidando do que importa. Pela calma que conquistas a cada instante de tempestade, pelo brilho no olhar, pela busca da palavra, por alguns milhões de sonhos, pela real realidade, por tanto aprendizado, pela grandeza da alma, por tudo e mais alguma coisa, valeu e segue valendo entrar no movimento sem pré-ocupações ou cálculos de resultados. Ah, eu não perderia por nada no mundo.

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Além do mais, até mesmo um pai ausente tem presente que espera: o menino me deu um sapato novo e macio para bailar, a menina vai me dar trinta dias de serviço como assistente de cronista. Um luxo desmerecido, pois não. E com amor renovado se faz tudo no maior gosto, espanta-se o atraso.

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Marina, dia desses vou de novo -nem precisa chamar. Pego a estrada, sigo o impulso, confio na harmonia que há de nascer em teu ritmo. Quero mesmo é vida nova.

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A vida velha, nem ligue. Bote pra desarrumar.

12 julho 2010

Em breve, no ar

O mundo tem prazo de validade, data irrevogável para o fim, ou existem outros motivos e intenções ocultas para tanta ansiedade e pressa? Eu deveria correr para pegar esse trem, mas, sabe, eu não faço fé nessa minha loucura e digo: por que tomaria os ilusórios trilhos da loucura alheia? Bastam-me os ecos desta canção. E o mundo, ah, o mundo não vale um beijo partido.
Parece, entretanto, que há possibilidade de que as flores brotem no terreno mais árido. Por isso, sairei às ruas pedindo que votem em Marina. Poderia até encontrar argumentos sólidos e consistentes como tijolos, mas fico, por enquanto, com essa leveza: em nome de uma lucidez semelhante ao vento.
Com as palavras que ele me soprar, farei crônicas. Poesia. Música. Quem sabe...

Durma-se

A pandemia de loucura é semelhante ao aquecimento global: tem períodos de pico e de baixa, mas nos últimos dois séculos vem alterando-se para mais, ou seja, no pico atinge níveis cada vez mais elevados e na baixa não retorna ao ponto anterior, fica sempre um pouco mais acima. Nos períodos de menor loucura, os dias mais calmos deste novo século, há mais insanidade que nas grandes guerras do século passado.

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Mudaram também as formas de contágio e transmissão. Antes, a loucura se disseminava quase da mesma forma que as demais insanidades, por proximidade e contato direto, quase físico. Depois passou a disseminar-se também como as ondas de rádio, potencializada principalmente pelas novas tecnologias da comunicação. Agora transmite-se ainda por conexões sub e supra-psíquicas comparáveis aos fenômenos da física quântica, não-causais e atemporais. Uma pessoa perturba-se em São Paulo, outra responde com perturbação igual ou complementar em Londres ou Tóquio, sem como nem porquê.

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A idéia de perturbação possibilita focar a atenção nas formas mais violentas da loucura, deixando de lado a infinidade de formas mais ou menos brandas, no amplo espectro entre a leseira e o delírio, que muitas vezes incorporam-se à paisagem sem provocar danos aparentes, ruídos ou rupturas, e às vezes são até confundidas com virtude e bom comportamento. Também a loucura violenta é confundida com a maldade e o crime, embora seja extremamente necessário distinguir uma coisa da outra. A frouxidão ética pode ser sintoma da perturbação ou fornecer-lhe campo fértil para o crescimento, mas o mais comum é que a maldade esperta use a loucura como desculpa.

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De todo modo, estas distinções servem tão somente para a auto-defesa, pois não há mais um poder externo e impessoal para mediar conflitos e providenciar soluções. Estado, mercado, coletivos, organizações e até deuses, ideologias e causas perderam a autoridade ao perderem a alteridade em relação à loucura, da qual cada vez mais participam e usam, promovem e potencializam. O dr. Simão Bacamarte atende às terças e quintas, na parte da tarde, no máximo dois ou três clientes e lhes dá algumas pílulas para regularizar o sono.

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28 junho 2010

entretempo

Tenho olhado tudo, na tentativa de perceber o espírito do momento -o anjo que passa neste agora- e saber o que lhe é próprio. Difícil. A indeterminação é total, relatividade absoluta, e reina a definitiva indefinição.

O interessante paradoxo é a aparência de mesmice. Tudo se repete: palavras, gestos, percepções exauridas de significado. Repito a palavra palavra até que seu som descole de qualquer sentido e seja objeto puro, opaco e obtuso. Assim, uma dislexia arrítmica se instala como semelhança do real, anti-metáfora, meta fora.

Mundo afora, os economistas discordam: uns dizem que a crise pode voltar, outros que ela não foi embora. Nas cidades alagadas do nordeste, as pessoas colocam fotografias para secar ao sol e as olham tentando lembrar de quem eram. Não desprezo a possibilidade de que o mundo tenha acabado.

Resta, entretanto, este entretempo que tento compreender.

31 maio 2010

Os vivos e os mortos

Fui ao cemitério com Samuel, no enterro de seu Arnóbio Marques, pai do Binho. Ouvimos a fala emocionada de um homem que não era governador nem autoridade nem nada, mas simplesmente um filho se despedindo do pai. Binho acariciava os cabelos da mãe enquanto contava, com a voz entrecortada, uma ou outra coisa a respeito do velho Arnóbio, um sonhador cheio de utopias, inventivo, com a cabeça nas nuvens, aquele tipo de homem que emprega todos e bens economias numa idéia muito avançada para seu tempo e acaba em falência, mas depois, com muito trabalho e alguma sorte, consegue recuperar tudo –e arrisca de novo, sempre. Um daqueles gigantes que fizeram a história da Amazônia andar para a frente depois da guerra, quando a borracha se esgotava em lenta decadência e era necessário descobrir novos negócios, conhecimentos, técnicas, experimentos agrícolas e industriais, tudo o que pudesse movimentar a vida. Ainda bem que nunca nos faltou uma boa quantidade de sonhadores nesta província distante do mundo.

Aproveitando a comovente lição de história, levei meu filho para passear entre os mortos. Aqui, quase em frente ao jazigo da família Fecury, onde ficou seu Arnóbio, está o túmulo de Flávio Baptista, avô desse menino Flaviano Melo, um coronel dos negócios e da política, dono de metade da capital acreana nos idos de 1940. Ali, perto da entrada, a família Mansour, onde está meu saudoso professor Elias, um filósofo transportado direto da antiga Grécia para as margens do rio Acre. E poderosos políticos e ricos comerciantes e respeitados intelectuais, com suas virtudes e pecados, duas ou três histórias trágicas, meia dúzia de comédias, nada que manchasse as lajes e esculturas, que disso a chuva se encarrega -as cores da história o tempo cuida de desbotar.

Vimos também os avós do menino, é claro. A professora Lindaura em seu modesto túmulo amarelo dá lições de responsabilidade e dedicação ao trabalho. O velho Vieira, jornalista e advogado entre tantos outros ofícios, numa fila de importantes irmãos da maçonaria, conta causos de irreverência e boemia que no mundo de hoje só escandalizam as senhoras católicas mais idosas e recatadas.

Todos estão, como escreveu Manuel Bandeira, dormindo profundamente. O que deixaram de fazer talvez tenha agora mais peso do que aquilo que fizeram sobre a terra. Mortos, são todos sábios e aconselham gravemente aos vivos que passeiam em redor de seus ossos: tudo passa, meus filhos, tudo se acaba em pó que o vento carrega. E o mais é vaidade, só vaidade, nada mais.

13 maio 2010

Um momento

Tudo é tão indizível que acaba em silêncio. E essa gente toda, nós outros, tagarelando feito doidos. Se ao menos não tivesse essa friagem, esse vento seco e esse céu de um azul tão limpo, talvez as palavras servissem como embalagem para as coisas sólidas e quentes, coisas densas que impusessem sua existência inevitável e dolorosa. Mas o princípio do verão amazônico é uma alegria luminosa, como se Deus, descalço, pisasse em folhas.
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Um inventário do silêncio registra: vizinho varrendo o quintal, filhotes de cachorro brincando, crianças correndo, ônibus que passa, periquitos no coqueiro, mãe chamando filho para tomar banho, o martelo de alguém que conserta uma escada, alguma música incidental num rádio distante. Cabe mais, talvez, tudo a seu tempo.
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Cabe ouvir.

29 abril 2010

Imgna tuu

Ravisol le simtgana avirin pel. Resm tolol, bisvemiat log. Sermil posram-al es nigma lobrou des librumul, iest wymm randmoliens iifta, segres intlonesc vana sintegma. Des simil cheeg mostrainom, iest bobol le prinoliemskval -urs malien rot bivens- sed lomian are abuv. Serdan levetice mori, escto bnel, infisien melimensi segres lantan. Bolis, meme.
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Ligbai merem flast homberer, sint volem urtan, belaruus monton beev semocta yom nonenko. Apras lim monam? Reterem dis. Resm luteg, imbirol selomai dereven -sambran cutou- ven sintegma oliens iifta, buloneros. Iresnan selei "palavra" selomens fagal.
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Ereneis "palavra"? Legorai ranuc simel, bolis. Renamal singron rones savec limoe baag sed milumidessi, gora fusam, bedomus sinopta lagra entormes. Singrovamal dis, ligbai moton.
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Imgna tuu yesei bil: borifai. Borifai meme.

26 abril 2010

O colecionador

Iniciei, há pouco mais de dois anos, uma coleção de palavras que inventei para uso particular e exclusivo. A princípio, intentei acrescentá-las, por serem incompreensíveis, àquelas importantes coleções promovidas por respeitáveis institutos desde tempos remotos: as de uso raríssimo, sonoridade estranha, significado improvável ou quaisquer outros atributos que despertem interesse e produzam valor. Decidi, entretanto, que palavras de minha autoria devem ficar separadas, não por alguma forma de vaidade mas, exato oposto, por não julgar-me à altura dos grandes vultos do passado, mestres da literatura ou veneráveis anciãos desta terra, em cujas expressões -livros, cartas ou lembranças- tem sido encontradas, as palavras das antigas coleções, digo, valiosas e diferentes desta que há pouco mais de dois anos, como disse, iniciei.
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Não parecerá aos meus contemporâneos despropositado colecionar palavras inventadas, pelo simples fato de que não as pronunciarei nem escreverei e porque, afinal, ninguém desconhece que o hábito de colecionar distingue a condição humana e sua capacidade de erguer civilizações. Cada civilização, em essência, é uma coleção de coleções; sua base, a língua, constitui uma coleção pública de palavras com uso generalizado e significados compartilhados, frequentemente consensuais.
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Tenho poucas, por enquanto. Algumas perdi para o esquecimento, vez que não ouso registrá-las para que não caiam em mãos alheias e, como sabem, minha memória, outrora infalível, já se desbota com o tempo e as atribulações da vida. Melhor assim: fossem moedas, eu acumularia um tesouro impossível de levar para o outro mundo, aquele que se alcança ao ultrapassar o portal da morte, e isso me entristeceria; sendo palavras, riqueza que o espírito carrega com facilidade, mesmo desconhecidas e incompreensíveis, podem compor um patrimônio difícil de administrar na eternidade.
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Esta é a causa de minha recusa em compartilhá-las e, ao mesmo tempo, desta esperança de esquecê-las, todas, com o passar dos muitos anos que ainda espero viver. Partirei feliz, com a leveza de uma coleção vazia de palavras inexistentes.

23 abril 2010

Sem som

Encerra-se hoje a Conferência dos Povos da Terra, convocada pelo Evo, bem aqui na Bolívia, e eu nem pude ir. Tudo bem, já não estou mesmo tão disposto assim a movimentos e já me basta o Seminário dos ayahuasqueiros na semana passada, cujos resultados ainda vão render muito trabalho.
Mas a idéia é interessante, fazer uma Conferência oposta às reuniões de "estadistas" organizadas pela ONU, como o fiasco de Copenhague e o próximo fracasso, já anunciado, no México. Foi assim que nasceu o Fórum Social de Porto Alegre, para se opor ao Forum Econômico de Davos. Tem algum resultado? Muito pouco, mas é sempre bom encontrar a turma, né mesmo?
De todo modo, todas essas grandes reuniões internacionais são midiáticas e simbólicas, destinam-se a impressionar a psique coletiva e seu resultado prático é o barulho. Por isso lamento que a mídia brasileira tenha dado tão pouca importância ao encontro na Bolívia, merecia ao menos uma zoadinha. Mas -que digo!- a maioria dos brasileiros nem sabe onde fica a Bolívia.

12 abril 2010

Seminário

Comunidades Tradicionais da Ayahuasca
Construindo Políticas Públicas para o Acre

Realização: Câmara Temática de Cultura Ayahuasqueiras – CMPC/FGB, Assembléia Legislativa do Acre, Fundação Elias Mansour – Governo do Estado do Acre, Centros Tradicionais da Ayahuasca

Data: 12,13,14 e 15 de abril de 2010 – Rio Branco - Acre

Local: Horto Florestal

Dia 15 – Plenário da Assembléia Legislativa

Programação

Dia 12 - Segunda- feira

14h - Abertura do Credenciamento

14h 30 - Solenidade de Abertura Oficial

16h30 - Mesa Redonda - História da Ayahuasca e sua importância na formação histórica do Acre

Participantes – Antonio Alves, Francisco Hipólito e Edson Lodi

17h40 - Intervalo – Coffe Break

18h às 21h30 - Sessão Temática: Cultura, Educação e Turismo

Dia 13 – Terça-feira

8h30 às 10h30 - Sessão Temática: Saúde

10h30 às 12h30 - Sessão Temática: Segurança Pública

12:30/14:00: Almoço

14h30 às 18h - Sessão Temática: Meio Ambiente e Urbanismo

Dia 14 – Quarta-feira

8h30 - Leitura da sistematização das sessões temáticas, debates e aprovação do documento final para encaminhamento das Propostas à Assembléia Legislativa

12:00/14:00: Almoço

14:30: Continuação da plenária e encerramento do seminário.

Dia 15 – Quinta-feira

10h - Seção Solene de Entrega dos títulos de Cidadão Acreano aos três Mestres Fundadores

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A Câmara Temática de Culturas Ayahuasqueiras do Conselho Municipal de Políticas Culturais realiza junto com a Assembléia Legislativa do Acre, Fundação Garibaldi Brasil e a Fundação Elias Mansuor o Seminário "Comunidades Tradicionais da Ayahuasca – Construindo Políticas Públicas para o Acre" que irá acontecer de 12 à 14 de abril no Horto Florestal, que culminará com a realização de uma Sessão Solene a ser realizada pela ALEAC na manhã do dia 15.

Os debates vão ser realizados em torno dos eixos temáticos: Cultura, Educação e Turismo; Saúde e Segurança Pública; Meio Ambiente e Urbanismo. O objetivo é discutir esses temas levando em conta as particularidades das comunidades tradicionais da ayahuasca acreanas, contribuindo para a construção de políticas públicas mais adequadas. A partir das discussões, será elaborado um documento com propostas a ser entregue à Assembléia Legislativa do Acre.

O encontro começa no dia 12, das 14h, sendo realizado no Horto Florestal até o dia 14. No dia 15 haverá uma Sessão Solene de Entrega dos títulos de Cidadão Acreano aos três Mestres Fundadores das comunidades tradicionais da ayahuasca, Mestre Irineu Serra, Mestre Daniel Mattos e Mestre Gabriel Costa, na Assembléia Legislativa do Acre a partir das 10h.

A ficha de inscrição para os interessados a participar do seminário está disponível no blog Cultura RB (http://culturarb.blogspot.com), sendo também possível a inscrição no dia do evento.

Câmara Temática de Culturas Ayahuasqueiras – É uma das 34 Câmaras Temáticas do Conselho Municipal de Políticas Culturais, que faz parte do Sistema Municipal de Cultura, criado em 2007. Para participar do Conselho e participar das reuniões mensais, basta realizar o Cadastro Cultural do Município de Rio Branco na sede da Fundação Garibaldi Brasil

08 abril 2010

Muito acima da cabeça

Aquele arrepio na alma -melancólica alegria- ao ver a luta da chuva com o primeiro anúncio do verão, a quase friagem do vento em rebuliço, com os pés na terra e a cara pra cima, procurando biribá maduro -agora que não tem manga e goiaba- e, ao mesmo tempo, uma fisgada de preocupação com estiagem ainda no início de abril, o que pode significar verão longo e grande seca, de que minha capoeira rala não necessita. Mas tudo calmo e cheio de sentido.
à noite, entretanto, com imagens de temporais no Rio, quebram-se outra vez a calma e o sentido.
Mais um dia de silêncio, portanto. Mais um dia.

17 março 2010

Passagens ocultas

Passei muitos dias sem ver a Terra, confinado aos arredores deste computador. Ainda assim –e por isso mesmo, aliás- não consegui escrever uma linha. Tomei uma grande dose de internet, enfiando-me nas minúcias do noticiário, nas centenas de análises e milhões de comentários. Tarde da noite, extenuado, desligava a máquina e procurava, com atenção nos atos e coisas mais simples –banho, roupas, dentes, portas e janelas-, chamar o sono e espantar os sinais evidentes de depressão.

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O mundo virtual, que se amplia veloz na mente humana, é uma plantação infinita de ódio, intolerância e preconceito. Todos gritam exasperados ou resmungam venenosos sobre qualquer assunto, com evidente preferência para aqueles sobre os quais não entendem nada. Pior que os ignorantes, porém, são os especialistas: desfilam com destaque na passarela ostentando obviedades extraídas de manuais e cartilhas do século retrasado, dois degraus abaixo do senso comum, preocupados em posar para a foto com cara de cientista, analista, ideólogo, pesquisador, mal conseguindo disfarçar sua alegria pelos 15 segundos de fama e oportunidade de deixar telefone para contatos.

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Veriana me deu a receita: “de vez em quando a gente tem que sair de todas as redes sociais e passar alguns meses se desintoxicando”.

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Ontem vi o luar sobre a Terra e o reflexo das estrelas na água do açude. Depois, nuvens. Chuva na varanda, madrugada adentro. E hoje comi um biribá madurinho, cuspindo as sementes no barro molhado. Peguei ônibus lotado: homens com sacolas, mulheres com crianças no colo, muitos jovens voltando do passeio. Este mundo é possível?

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Passei a vida lutando nas ruas, pregando nas praças. Agora descubro passagens ocultas, varadouros, atalhos, feitos de anonimato e silêncio. Qualquer hora saberei aonde levam.

15 março 2010

Balanços e tremores

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Um corte na carne, que fica exposta ao risco de infecções, daí a necessidade de tomar medicamentos –antibióticos, agressão direta- que geram desconforto intestinal e conseqüente dor nas costas e retesamento dos músculos do pescoço, instalando assim uma dor-de-cabeça constante, o que resulta num padrão repetitivo de irritação, impaciência e agressividade. É necessário mobilizar o resto de atenção disponível para distinguir, em cada pensamento sobre qualquer assunto, o que provém da lucidez e o que é mal-estar. Não é fácil.

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Ouvi falar, há muito tempo, de um gato esperto de causar admiração: quando lhe davam uma tigela cheia de café-com-leite, lambia vagarosamente todo o leite e deixava o café de sobra. Todos os dias aprendo a lição desse gato, todos os dias esqueço e tenho que aprender novamente.

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Pouca gente percebe a mistura da catástrofe geológica com a insanidade social. Como se a mente nada tivesse com as tripas.

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(Muitas vezes, o esforço para curar a doença é sintoma-reflexo, parte dela.)

21 fevereiro 2010

Mais uma

De Carlos Eduardo Lins da Silva, ao se despedir do cargo de ombudsman da Folha de S. Paulo:
“... uma eleição presidencial em que se exercitarão com força total os piores instintos de parcela pequena mas nefasta do eleitorado engajada na guerra sectária de partidos políticos que vem desgastando o tecido das relações sociais no país há alguns anos.
A arena de debate político no Brasil se transformou para algumas pessoas em ringue de combate da modalidade "ultimate fight". Para esses trogloditas do espírito, a força do argumento parece diretamente relacionada com a intensidade do insulto: acham que ganharão mais discípulos se conseguirem xingar mais alto e no mais baixo nível os seus inimigos.
Não sou talhado para esse tipo de embate. Não tenho habilidade, disposição, instrumental para me sair bem nele. Se isso é o que se requer para garantir a sobrevivência das espécies neste ambiente social, prefiro estar entre as ameaçadas de extinção
”.

Nos últimos dias, outros jornalistas comentaram a virulência e a baixaria na internet, principalmente nos comentários em blogs. De minha parte, já vi que é inútil reclamar. Olha que pra mim as coisas estão diferentes porque, com Marina na disputa nacional, é como se fosse alguém da família exposta aos insultos dos estranhos, e isso dói mais. Entretanto, no mundo da política, é apenas mais uma eleição. Por isso transcrevo o que escrevi em julho de 2004, no blog o espírito da coisa:

... A irritação é constante, às vezes disfarçada de justa indignação, e faz com que os problemas mais comezinhos se transformem em tragédias. A atitude é de permanente defesa, a culpa não é minha, e como a melhor defesa é o ataque, a culpa é deles. Um ataque verbal bem sucedido provoca um alívio temporário na irritação, que é substituída pela sensação de poder, agora ferrei com eles!, e reforça a couraça para novos embates. O inverso disso, uma agressão sofrida, resulta em ebulição no caldeirão de óleo que respinga queimando as entranhas e provocando ânsias de vômito.
Personas do teatro público, ou, para falar uma linguagem atual, os ícones da mídia, agem como catalisadores de todos esses sintomas e significados. Façam ou não façam qualquer coisa, é em torno deles que se forma o pandemônio da epidemia emocional. São eles que dão direção à crise, articulam as noções de lado, aliado e oposto, de bem e mal, ruim e pior. Sem eles, o surto não teria controle nem limites, pela ausência da autoridade que determina a censura e premia a auto-censura. Sem eles, o ódio se espalharia como num campo, sem barreiras mas também sem objeto nem conseqüência, inútil. São eles que recolhem o ódio público e usam de maneira mais ou menos eficiente: uns contra os outros, na conquista de território, na construção de estruturas, no reforço das couraças coletivas. (É uma técnica relativamente simples, criar a onda em que vai surfar.)


E em setembro do mesmo ano, pouco antes da eleição:
A histeria irresponsável dos gritos, o vômito do rancor, a pestilência da raiva, as fobias que vagam pelas noites, a cobiça que arde nos olhos, a inveja que amarga a boca, tudo isso vai passar. É necessário que se revele -que rache ao sol e seja lavada pela chuva- toda essa doença que se oculta em nossos pântanos interiores. Acumulamos sofrimentos por muito tempo, no fígado, nos intestinos, nos ossos. É demorada a cura, a restauração do equilíbrio alegre e da serenidade confiante”.

Enfim, mais uma vez, lá vamos nós.

08 fevereiro 2010

Anzol no beiço

Rendo-me à evidência de que uma parte interessante da campanha política migrou para o twitter. Lá estou como @antonioacre, seguindo @silva_marina, que, aliás, hoje está fazendo anos. #vivaMarina!
(quero só ver o que a Veriana vai dizer...)

31 janeiro 2010

Óleo no cérebro

1.

Os poucos, porém fiéis e atentos leitores deste blog não me permitem desatenções. A pretexto, pois, de explicar os termos da despretensiosa e –reconheço- descontextualizada mensagem anterior, pretendo passear por outros tempos e espaços na tentativa de espantar uma restrição mental que resulta em textos de baixa qualidade, além de aproveitar a ocasião para reavivar o gosto por uma boa conversa e, de quebra, quem sabe, reverter a queda evidente e acentuada de minha popularidade, embora com percentuais ainda não revelados pelos institutos de pesquisa.

2.

Começo desembarcando em Brasília depois de um torturante vôo noturno, carregando minha mochila e meu cansaço até o apartamento em que o Senado abriga minha líder Marina Silva. Encontrei-a, mal iniciado o dia, empenhada em promover a paz e a convivência harmônica entre diversos eus, nós, eles e outros que navegam nas embarcações políticas de sua frota cada vez mais numerosa. Após algumas providências e conversas pacificadoras, atendeu-me com café e explicação: “uma coisa que desenferrujou na minha cabeça foi a política”. Apelei, pois, para sua proverbial caridade cristã: “então, por favor, me arranja um pouco de óleo porque na minha cabeça a política continua rangendo”. Ainda bem que Marina é tranqüila e lúcida o suficiente para recusar uma boa parte de meus palpites, se fosse segui-los brigaria com meio mundo. (Sei que sou um bom assessor pela qualidade daqueles a quem assessoro.) Deixo a coerência para quem dela precisa e posso promover foguetórios verbais na fronteira da liberdade com a irresponsabilidade. Mas para poucos e íntimos, é claro, que não sou de escândalos.

3.

Uso com parcimônia cada vez maior esses pronomes coletivos, nós e eles. Depois de tanto tempo com a impressão de um “eu” tão próximo, reconhecível e confiável, percebo cada vez mais claramente sua impermanência, fragilidade e estranheza. Como definir, então, fronteiras de identidade e alteridade para o que quer se seja, abraçar ou empurrar, aliar-se ou opor-se? Resta-me o recurso das aspas, gasto e parco, para mostrar minha consciência de que essas separações existem quase como fantasmas ou talvez as proverbiais bruxas em que no creo, pero las hay. Afinal, parece que “nós” guarani-kayowá não estamos muito contentes com “nós” fazendeiros no Mato Grosso. E o que digo “eu”? Crianças, deixem disso e vamos todos rezar? Guerra e paz, amor e ódio... não fico satisfeito com dualidades. Mergulho mil vezes na multiplicidade e, para não me afogar nela, levo comigo a sentença de Heráclito, que coloquei na proteção de tela do meu computador: Tudo é Um. Mas às vezes “eles” se esquecemos.

4.

Ainda tenho esperanças de que seja possível formar e manter comunidades, de resto uma idéia muito interessante. Mas como fazer isso? Durante duas décadas, antes de sermos assumidos pelo poder de Estado, percorremos rios e varadouros para dialogar com as comunidades da floresta na linguagem dos projetos. “Cultura de projeto” foi a expressão que usei para designar um conjunto de relações que nasceram nas ONGs e que depois “nós” levamos para o Estado. O projeto tem um roteiro: objetivos, justificativa, estratégia, cronograma etc. etc. e, no final, o mais importante: orçamento. Costumo brincar dizendo que o projeto tem, oculto, um fundamento militar; trata-se de um “projétil”, que sempre tem um “público-alvo” a ser “atingido”. Obviamente, não estou condenando os sonhos, a projeção do futuro, o planejamento, nada disso, embora também não morra de amores por todos esses disfarces do desejo de controle associado à idéia de um tempo linear, por mais criativos que sejam, nem esteja conformado com uma condição humana –momentânea, coisa de poucos milênios- em que se desenvolveu o vício de projetar o pensamento para “passado” ou “futuro” ou qualquer lugar distante do agora, deslocando assim o estar para fora do ser. De todo modo, como às vezes faço guerra ou amor e eventualmente digo “nós” e “eles”, também ainda faço projetos. Não sou, como já reconheci, um exemplo de coerência, mas é preciso sobreviver e, para isso, fazer uso de coisas muito próximas da vilania, como estratégia, objetivos, planos e –argh!- política. (Marina, vou mesmo precisar daquele óleo no cérebro.)

5.

De todo modo, fiz aqui –e mantenho- uma rápida constatação de que no enfrentamento de projetos, estamos, quem quer que sejamos “nós”, perdendo para aqueles, quem quer que sejam “eles”, que projetam a devastação. Bem lembrado o caso do Casarão. Ali, ao lado do velho avarandado de madeira, próximo ao quartel da antiga Guarda Territorial, em frente à pracinha do coreto, onde ficam a Escola Normal e o Hotel Chuí, estão querendo construir um monstro brega com enormes arcos modernosos, mais uma ofensa ao patrimônio histórico, à memória, à paisagem, à identidade e até à sensibilidade. “Eles”, que projetam essa agressão, são os mesmos que destruíram boa parte do patrimônio arquitetônico erguido entre 1940 e 1970 para instalar torres de vidro, arcos de concreto, fachadas de metal, quiosques de fibra e um amplo arsenal de breguices. E “nós”, o que fazemos? Ficamos vendo o monge Zen eliminar o problema com sua espada jurídica, dizendo que não pode “engessar” a cidade e que o patrimônio antigo tem que conviver com o “moderno, vivo e vibrante”? E esse é só um dos casos que não conseguimos nem empatar, posso citar uma dezena e deixar outra guardada no bisaco.

6.

Com essas pernas, como dar passos sustentáveis? Antigamente, antes da cultura de projeto, dizíamos “auto-sustentável” (lembram-se, companheiros?), porque achávamos que ninguém ia nos dar de comer e não imaginávamos quão bom era o preço pelo qual venderíamos nossa autonomia. Agora ninguém trabalha de graça, a definição é pré ou pós-pago. Marina vive falando (sempre ela!) nos tais “núcleos vivos da sociedade”, parece que existem por aí alguns grupos, pessoas e até organizações fazendo coisas interessantes e auto-sustentáveis. Tenho insistido na necessidade de criar moedas paralelas, de circulação local, capazes de facilitar as trocas em sub-sistemas econômicos de âmbito comunitário ou regional, sustentando o trabalho e a arte de gentes variadas. Existem experiências interessantes no mundo e até nesses novos paraísos consumistas como Índia e Brasil. Mas será que a moda pega, será que chega aqui?

7.

Por enquanto, continuo achando sedutora a visão daquele poético anônimo que imagina a extinção do homo sacer (aprendo mais essa) e um planeta sem “nós” dando belas piruetas ao redor do sol. E tem gente que diz que eu ando apocalíptico. Ora, apocalíptico é o Haiti. Eu estou meio enferrujado, só isso.

15 janeiro 2010

Dois problemas

1.
Retomar a iniciativa. "Eles" estão inventando e fazendo coisas para gastar o dinheiro que ganham e ganhar o que gastam. "Nós" tentamos empatar. Precisamos fazer e inventar coisas para ganhar tempo e espaço.
2.
Auto-financiamento. A cultura de projeto acabou com nossa autonomia. Como podemos nos bancar? Sustentável é o passo que damos com nossas pernas etc. etc.

Sem tremer

.
Há uma ilusão persistente de que a cura será sem dor, que as coisas vão se acertar e tudo vai melhorar e as pessoas começarão a se entender e a natureza abrandará seus rigores. Não vai dar. Há carma demais, ódio demais, doença demais para que seja assim tão suave. Muita coisa vai quebrar, já começou.
..
Há um sentimento oposto -outra reação ao mesmo medo-, que é o desejo intenso de punição, uma contrariedade diante de qualquer melhora ou boa notícia, uma ânsia de catarse, um sarcasmo que impede o perdão, uma amargura seca, um fogo da vingança.
...
Por agora, algumas explosões fanáticas: novos ataques de um islamismo homicida, pastores racistas norte-americanos que oram pela morte de seu presidente, neo-nazistas europeus preparando mais uma temporada de caça, além dos crimes bizarros cotidianos. Tudo, entretanto, contido pelo inverno no hemisfério norte e pelas chuvas no sul. Quando vier o tempo da seca, das ondas de calor extremo, dos incêndios, das tempestades de poeira, aí a loucura coletiva -com ou sem disfarces religiosos e ideológicos- irromperá num espetáculo de fúria.

03 janeiro 2010

Depois, o mundo

Preciso vencer uma impaciência. É meio complicado de explicar: é impaciência com o alcance das palavras, idéias, conceitos, planos, estratégias, tudo que é tentativa de enquadrar a redondeza da terra. Passei de todos os conceitos e não sei como me comunicar sem eles. Não dá pra dizer algo tipo assim, entende? A gente tem que ser simples e claro. Mas as palavras estão gastas e opacas. Quer ver? Olha só o Meio Ambiente. É algo que foi inventado há pouco tempo, é novidade pra tanta gente e já nem diz muita coisa. Antes não existia meio ambiente. Existia a natureza: os rios, as árvores, os animais e nós, humanos. Existia o mundo e sua vastidão a ser percorrida. Existia o trabalho com a terra e seus recursos. O meio ambiente só passou a existir quando nós, humanos, nos afastamos da natureza. Quando o mundo foi percorrido tantas vezes que ficou pequeno. Quando os recursos da terra, sob o ritmo do trabalho industrial, começaram a dar sinais de esgotamento. Formou-se, então, a idéia do que estávamos perdendo. A natureza foi se acabando, ficou só o meio ambiente... e a minha impaciência, pois com isso não dá pra fazer ou refazer um mundo. Bem, pelo menos sei por onde começar: vencer essa impaciência.

Encontro

Alô, tem alguém do Movimento Marina Silva aí? Olha só, o Eduardo -que muitos conhecem pelo apelido de "gestor da rede", está de passagem por Rio Branco e marcamos um bate-papo na Biblioteca da Floresta, no dia 7, quinta-feira, às 18 horas. Se estiver disponível, passa lá. Vai ser legal. Não é "reunião", aquela coisa chata com pauta e votação, é um encontro pra trocar idéias e impressões. Como dizia o Leminsky: distraídos, venceremos. Abraços.