Na terça-feira, dia 20, recebi um e-mail do Jairo Carioca, outro irmão de fé que anda pelos caminhos do jornalismo e agora está trabalhando no site Ac24Horas. Tinha lido uma nota na coluna do Leo Rosas informando minha desfiliação do PT e queria fazer uma entrevista. Mandou seis perguntas, que procurei responder rapidamente, de maneira coloquial e sucinta. No dia seguinte viajei para Brasília e quando retornei recebi o recado de que a matéria havia sido publicada no sábado. Resolvi, então, mostrar aqui a íntegra das perguntas e respostas para que possamos depois conversar sobre política. Quero que minhas opiniões fiquem claras e devo aproveitar o bom ânimo que encontrei na viagem para desfazer confusões. Fica aberta, assim, uma temporada de política neste blog, desde que não se perca a poesia, sempre necessária.
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1 - Sua decisão tem algo a ver com a decisão da senadora Marina Silva, hoje no PV?
Tem tudo a ver. Já estou afastado do PT há muito tempo, há vários anos não participo da chamada "vida partidária". Mas não havia necessidade de formalizar minha desfiliação. Agora a situação mudou, porque a Marina provavelmente será candidata a Presidente pelo PV e eu pretendo, é claro, fazer campanha pra ela. Desvincular-me do PT é uma medida prática para evitar constrangimentos políticos ou problemas jurídicos para mim ou para outras pessoas.
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2 - O PV entre outras ideologias, defende a legalização da maconha. O que vc diz sobre o fato de ir para um partido que defenda essa ideologia?
Não creio que seja necessário filiar-me ao PV para participar da campanha da Marina. De todo modo, parece que o PV vai aprovar uma espécie de "cláusula de consciência", pela qual seus filiados não serão obrigados a defender posições contrárias às suas convicções religiosas e éticas.
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3 - O PV também defende o aborto. Vc acredita em mudanças de paradigmas, ou seja, que com as novas adesões, inclusive a de Marina, o partido mude de concepções?
Nenhum partido defende o aborto. Mas vários defendem a sua descriminalização, entre eles o PT e o PV. Creio que a posição desses partidos não vai mudar. Mas a tendência é que essa questão não seja central e obrigatória; portanto, não resultará em problemas para a Marina ou qualquer outro filiado que tenha idéia discordante. Acho que o PV vai exigir consenso em questões básicas relacionadas ao desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental, a justiça social etc. Mas isso é apenas uma previsão pessoal, afinal não sou filiado ao PV.
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4 - Você, Marina e Binho fazem parte da fundação do PT no Acre, porque largar tudo depois de tantas lutas e conquistas?
Largar o quê? A gente se filia a um partido pra defender uma causa, não para ficar agarrado ao poder político ou status social. Neste momento, o futuro da humanidade está em questão, as mudanças do clima no planeta encurtam todos os prazos e o mais importante é fazer com que o povo discuta esse assunto e pressione os políticos a tomarem decisões. Todas as lutas e conquistas que tivemos até agora são importantes, mas são pequenas diante da enorme batalha que temos pela frente.
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5 - Até que ponto vc acredita que Marina Silva poderá ser bem sucedida na campanha presidencial? Que motivos o eleitor acreano teria para votar em Marina e não na candidata de Jorge, Tião e Lula?
A candidatura da Marina ainda é uma mera possibilidade, mas já provocou mudanças enormes no quadro da disputa eleitoral. Mudanças na forma e também no conteúdo, pois a chamada "questão ambiental" entrou definitivamente na pauta de todos os candidatos. Que motivo o eleitor terá para votar na Marina? Simples: ela tem uma proposta para nossa vida, um outro tipo de economia e sociedade. Os outros candidatos tem alguma proposta melhor?
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6 - Para não tomar muito o seu tempo, a Frente Popular de hoje é a mesma criada na década de 90?
É claro que não. Hoje é muito maior, mais poderosa e mais conservadora. Mas isso é natural: assim como as pessoas, as organizações e instituições também envelhecem. A Frente Popular foi um importante instrumento de ação política para esta geração. As novas gerações criarão outros instrumentos. Tudo no mundo se acaba, não é mesmo?
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