28 outubro 2009

Menos mal

CÂMARA APROVA REGIME DE URGÊNCIA PARA REFERENDO SOBRE MUDANÇA DO FUSO HORÁRIO NO ACRE

Projeto de Flaviano Melo (PMDB-AC) foi aprovado por 267 votos a favor e 40 contra. Partido dos Trabalhadores (PT) trabalhou ativamente contra a aprovação.

(Leia no blog Ambiente Acreano, de Evandro Ferreira)

26 outubro 2009

Pra clarear

Na terça-feira, dia 20, recebi um e-mail do Jairo Carioca, outro irmão de fé que anda pelos caminhos do jornalismo e agora está trabalhando no site Ac24Horas. Tinha lido uma nota na coluna do Leo Rosas informando minha desfiliação do PT e queria fazer uma entrevista. Mandou seis perguntas, que procurei responder rapidamente, de maneira coloquial e sucinta. No dia seguinte viajei para Brasília e quando retornei recebi o recado de que a matéria havia sido publicada no sábado. Resolvi, então, mostrar aqui a íntegra das perguntas e respostas para que possamos depois conversar sobre política. Quero que minhas opiniões fiquem claras e devo aproveitar o bom ânimo que encontrei na viagem para desfazer confusões. Fica aberta, assim, uma temporada de política neste blog, desde que não se perca a poesia, sempre necessária.

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1 - Sua decisão tem algo a ver com a decisão da senadora Marina Silva, hoje no PV?

Tem tudo a ver. Já estou afastado do PT há muito tempo, há vários anos não participo da chamada "vida partidária". Mas não havia necessidade de formalizar minha desfiliação. Agora a situação mudou, porque a Marina provavelmente será candidata a Presidente pelo PV e eu pretendo, é claro, fazer campanha pra ela. Desvincular-me do PT é uma medida prática para evitar constrangimentos políticos ou problemas jurídicos para mim ou para outras pessoas.

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2 - O PV entre outras ideologias, defende a legalização da maconha. O que vc diz sobre o fato de ir para um partido que defenda essa ideologia?

Não creio que seja necessário filiar-me ao PV para participar da campanha da Marina. De todo modo, parece que o PV vai aprovar uma espécie de "cláusula de consciência", pela qual seus filiados não serão obrigados a defender posições contrárias às suas convicções religiosas e éticas.

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3 - O PV também defende o aborto. Vc acredita em mudanças de paradigmas, ou seja, que com as novas adesões, inclusive a de Marina, o partido mude de concepções?

Nenhum partido defende o aborto. Mas vários defendem a sua descriminalização, entre eles o PT e o PV. Creio que a posição desses partidos não vai mudar. Mas a tendência é que essa questão não seja central e obrigatória; portanto, não resultará em problemas para a Marina ou qualquer outro filiado que tenha idéia discordante. Acho que o PV vai exigir consenso em questões básicas relacionadas ao desenvolvimento sustentável, a conservação ambiental, a justiça social etc. Mas isso é apenas uma previsão pessoal, afinal não sou filiado ao PV.

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4 - Você, Marina e Binho fazem parte da fundação do PT no Acre, porque largar tudo depois de tantas lutas e conquistas?

Largar o quê? A gente se filia a um partido pra defender uma causa, não para ficar agarrado ao poder político ou status social. Neste momento, o futuro da humanidade está em questão, as mudanças do clima no planeta encurtam todos os prazos e o mais importante é fazer com que o povo discuta esse assunto e pressione os políticos a tomarem decisões. Todas as lutas e conquistas que tivemos até agora são importantes, mas são pequenas diante da enorme batalha que temos pela frente.

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5 - Até que ponto vc acredita que Marina Silva poderá ser bem sucedida na campanha presidencial? Que motivos o eleitor acreano teria para votar em Marina e não na candidata de Jorge, Tião e Lula?

A candidatura da Marina ainda é uma mera possibilidade, mas já provocou mudanças enormes no quadro da disputa eleitoral. Mudanças na forma e também no conteúdo, pois a chamada "questão ambiental" entrou definitivamente na pauta de todos os candidatos. Que motivo o eleitor terá para votar na Marina? Simples: ela tem uma proposta para nossa vida, um outro tipo de economia e sociedade. Os outros candidatos tem alguma proposta melhor?

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6 - Para não tomar muito o seu tempo, a Frente Popular de hoje é a mesma criada na década de 90?

É claro que não. Hoje é muito maior, mais poderosa e mais conservadora. Mas isso é natural: assim como as pessoas, as organizações e instituições também envelhecem. A Frente Popular foi um importante instrumento de ação política para esta geração. As novas gerações criarão outros instrumentos. Tudo no mundo se acaba, não é mesmo?

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14 outubro 2009

Rosa dos ventos


1.
Algo que se passa no interior, aqui dentro: subjetivo, talvez, e não interessa a ninguém? Pois eu conto do vendaval que passou. As pessoas viram na TV os vidros quebrados do aeroporto, os aviões com as rodas pra cima, que coisa!, deve ter sido forte esse vento. Foi mesmo. Arrancou árvores ao redor da minha casa, lançou galhos e folhas por toda parte, quebrou as bananeiras, revirou tudo. Isso pode ser objetivo, material e externo para quem não vive na Terra. Leio Drummond: “o mar batia em meu peito, já não batia no cais”; mas há quem não sinta a revolução no mundo.
2.
Faz tempo. Madrinha me contou de um temporal no Alto Santo, em 1950. O vento derribou tanta árvore, que da janela do Mestre dava pra ver a casa do Chico Martins, lá embaixo, longe, quase encostada ao igarapé. Contou que o pai tinha ido pra mata serrar madeira e a mãe estava costurando umas roupas na casa da vizinha e vieram correndo quando ouviram a quebradeira. Vejam só, o mundo ia se acabando antes mesmo de eu nascer. Mas as casas não foram atingidas e ninguém se machucou. Outras árvores cresceram –e depois foram cortadas, os roçados eram grandes naquelas eras.
3.
Dizem que em 9 dos próximos 10 anos o verão amazônico vai ser mais quente do que está sendo neste ano de 2009. Serradilmaciro presidente vai mandar pendurar nos Andes um gigantesco aparelho de ar condicionado, movido a petróleo extraído das profundezas. E eu saio andando com o Davi, pelo caminho que ele roçou arrodeando a capoeira, procurando o melhor lugar pra construir um chapéu de palha. Precisa cavar pra ver se tem água perto e abrir um caminho até o açude. É meu PAC de sombra e água, minha infra-estrutura de desenvolvimento pra lá de humano.
4.
Quanto mais me misturo ao povo, mais aprendo as artes da sobrevivência. Um dia saberei o suficiente para mim e quem precisar. Por enquanto, vou tirando com o terçado os galhos mais finos e empilhando a madeira das árvores quebradas pelo vento. Ajuda a fazer uma cerca, um trapiche, uma escora ou mesmo um fogo pra cozinhar macaxeira. A vantagem de um vento assim é que as sementes se espalham. O terreiro está cheio delas, de todas as espécies, que vieram de longe.
5.
Entrei no Movimento Marina Silva, na internet, que já passa de dez mil associados. Nele vejo textos interessantes, de gente simples que quer participar de uma coisa boa e expressar suas esperanças e também de pessoas experientes ou até estudiosos de assuntos diversos, num fórum aberto a todos os pensamentos. Participei da Conferência de Cultura e juntei-me a um grupo de rebeldes que quer agitar a Conferência de Comunicação. Formalizei minha desfiliação do PT e vou assim desatando alguns nós que ainda me restringem a um tempo partido, para chamar Drummond mais uma vez, “tempo de homens partidos”.
6.
A tempestade de 1950 e a enchente de 1953 são reais e enriquecem minha memória. Também foi grande a alagação de 1911, ano em que foram quase extintos os Kuntanawa e Puyanawa que, hoje, entretanto, renascem com força e esperança. As crianças de agora são jovens em 2026, que seguram seus filhos nos braços enquanto me contam seus planos para 2050. E estes números serão simples marcações auxiliares em uma memória feita de terra, sol, lua, estrelas, enchentes, secas, tempestades, fome, fartura, doença, saúde, guerra, paz... breves e eternos momentos da vida neste planeta.
7.
Aprendo ainda que a esperança não tem medo de ilusões. Costumamos chamar as crenças alheias de superstições e às nossas superstições damos o nome de crença. Nossa ideologia é ciência, a ciência dos outros é ideologia. Nossos crimes são apenas erros, os erros dos outros são crimes. Nossas árvores só dão frutos doces, as dos vizinhos dão frutos amargos. Mas vem a tempestade e joga todas no chão, por igual, e as sementes por toda parte. Vejo, assim, que a condição para manter minha esperança é respeitar e esperança dos outros, mesmo quando me pareçam ilusões. É o tempo quem diz o que há de vingar.
8.
Enfim, estou içando velas e bandeiras para aproveitar o vento que, como dizem as escrituras, sopra onde quer. E quando quer.

05 outubro 2009

A caminho


A pergunta é: como manter a esperança, sem alimentar ilusões?

Pensei e pensei, pois há muitos becos sem saída. Revejo um texto antigo, em que me perguntava se o mundo já tinha passado do ponto de não-retorno, e noto como foi se formando essa certeza de estar vivendo numa espécie de ante-presente, um tempo ineficaz, que não se conta nem se pode contar.

Agora vem Marina com esse chamado, como se ainda desse tempo, como se ainda houvesse jeito –e tanta gente acredita e transfere seus sonhos para outra embarcação, que não posso deixar de me comover. Então vem minha filha Veriana, que daqui a uns dias chega aos vinteanos, e me chama para suas conferências e revoluções comunicativas e culturais, o que me lembra, a um só tempo, que minha descendência neste mundo resulta em inevitável compromisso e que ainda posso ensinar algum ofício, afinal necessário ou ao menos prazeroso, aprendido nas andanças e batalhas d’antanho.

Está bem, vamos.

Reservo-me, porém, o direito de alguma reserva: uma ironia que prometo jamais resvalar para o sarcasmo, boa dose de ceticismo sem a impureza do cinismo, um certo enfado para reuniões já reunidas de conversas já conversadas e distrações freqüentes para olhar a paisagem –afinal, não vim à guerra apenas para guerrear. E não me chamem em dias santos.

Levo comigo uma caneta de ponta muito fina, para desenhar, um velho livro com alguma poesia e a certeza da proteção divina. Faz tempo já me passei para o lado do mistério, mas ainda conheço alguns segredos.

Sou bom na água, melhor na terra. Serei de alguma ajuda.