27 abril 2009

(ainda a água)

Não sei muito acerca de deuses, mas creio que o rio
É um poderoso deus castanho –taciturno, indômito e intratável,
Paciente até certo ponto, a princípio reconhecido como fronteira,
Útil, inconfidente, como um caixeiro-viajante.
Depois, apenas um problema que ao construtor de pontes desafia.
Resolvido o problema, o deus castanho é quase esquecido
Pelos moradores das cidades –sempre, contudo, implacável,
Fiel às suas iras e épocas de cheia, destruidor, recordando
O que os homens preferem esquecer. Desprezado, preterido
Pelos adoradores da máquina, mas esperando, espreitando e esperando.
Seu ritmo estava presente no quarto das crianças,
Na álea dos ailantos dos quintais de abril,
No aroma das uvas sobre a mesa de outono
E no halo vespertino dos lampiões de inverno.

(T.S.Eliot, The Dry Salvages, tradução de Ivan Junqueira)

5 comentários:

Anônimo disse...

" do rio que tudo arrasta se diz violento,mas não se diz violento as margens que o oprimem".

luciahelena disse...

Belo texto de E. Eliot! Lendo-o tive a sensação que "um rio passou em minha vida". Mas quem sabe das coisas, do rio castanho, são os amazônidas: já escrevi que o ritmo de tempo dos povos da floresta seguem o movimentos dos rios. Uma lição para os citadinos. Já naveguei pelos rios castanhos do Solimões, mas desejo navegar nos rios castanhos do Acre. Sentir os seus ritmos, seus movimentos, pois são os ritmos e movimentos verdadeiros da vida, assim como o dos mares (onde muito já naveguei). Navegar é preciso, viver também! bjs.,
lu

luciahelena disse...

Errei o nome do grande pensador e poeta: T.S.Eliot. Às vezes convivo com os meus erros na escrita do blog (e já aprendi a fazê-lo na vida, embora nem sempre seja fácil). Adoro quando consigo dar de ombros aos meus erros, defeitos, manias e imperfeições. E não são poucos. Isso já é um grande avanço para uma ex-perfeiccionista. Pelo menos em alguns aspectos. Talvez por isso precise navegar os rios, saber acompanhar as suas sinuosidades, seus movimentos tortuosos, curvados. Creio que já convivo com meus erros porque agora tenho cada vez mais avidez de vida. Sou ávida de vida, sabendo que seus movimentos não são retilíneos, mas curvos - como o dos rios...

Veriana Ribeiro disse...

vi e pensei em você

http://www.youtube.com/watch?v=4tzSETbQcJk

Estava assistindo isso (http://www.osolfilme.com/site_oficial_novo.swf) hoje na aula e me deu um estalo. Acho que decidi o tema da minha mono (pela milessima vez, mas vamos ignorar essa parte): "O Jornalismo Alternativo e os Movimentos Estudantis na dêcada de 70 em Rio Branco" ou algo do genero. Já sacou que você vai virar fonte de estudo, né? (rs). O tema precisa ser melhorado, mas a ideia central é mais ou menos essa. Tudo inspirado no filme aí de cima. =)

"O sol nas bancas de revista...Me enche de alegria e preguiça... Quem lê tanta noticia..."

Antonio Alves disse...

Ai, meu Deus, a quem puxou essa menina? De onde tira essas idéias?