28 junho 2010

entretempo

Tenho olhado tudo, na tentativa de perceber o espírito do momento -o anjo que passa neste agora- e saber o que lhe é próprio. Difícil. A indeterminação é total, relatividade absoluta, e reina a definitiva indefinição.

O interessante paradoxo é a aparência de mesmice. Tudo se repete: palavras, gestos, percepções exauridas de significado. Repito a palavra palavra até que seu som descole de qualquer sentido e seja objeto puro, opaco e obtuso. Assim, uma dislexia arrítmica se instala como semelhança do real, anti-metáfora, meta fora.

Mundo afora, os economistas discordam: uns dizem que a crise pode voltar, outros que ela não foi embora. Nas cidades alagadas do nordeste, as pessoas colocam fotografias para secar ao sol e as olham tentando lembrar de quem eram. Não desprezo a possibilidade de que o mundo tenha acabado.

Resta, entretanto, este entretempo que tento compreender.

8 comentários:

Socorro Fonseca disse...

Compreendo.

Anônimo disse...

divido com você esse exercício, de compreender o entretempo, que parece nos deixar a espreita de algo que ainda não foi e tampouco será. vale nessas horas lembrar para não esquecer, para redimensionar o agora, para ter uma perspectiva outra de uma coisa que ta ali no estado morno, pra depois desabrochar.
é sempre bom passear por esse tempo algum. abraço, Ju.

nsmd53 disse...

Toinho,
Eu também fico reparando qual é a da hora, agora. Comparando com ontem. Um dia não é igual a outro, assim como não há ser humano igual.
Qual é o espírito do momento e do lugar. É como decifrar sonhos. Eles dizem muito mas a gente conhece pouco. Acho que perseverar na observação traz boa fortuna!
Quanto aos economistas e as fotografias secando ao sol, sinto que a ordem do mundo é transformar. É hora da borboleta, como desenhava e avisava Magrite, faz tempo...
Abração

Veriana Ribeiro disse...

- calem-se, calem-se, calem-se! Vocês me deixam louco!

O mundo acabou e esqueceram de avisar. Eu espero paciênte pela era em que as baratas vão dominar o mundo, porque os seres humanos já deu né.

Maurício Bittencourt disse...

Como só me vieram palavras atônitas, recorro ao site do amigo Quiroga (http://www.astrologiareal.com.br/) para contribuir. Eis o que ele aponta para este domingo (04.07), tão enigmático quanto o tempo algum: "O INIMAGINÁVEL ESTÁ EM ANDAMENTO. Sempre esteve disponível para todos energia inesgotável e gratuita, mas desde que temos esta memória distorcida que chamamos história houve movimentos intencionais para obliterarmos esta consciência, já que com ela dispensaríamos os bancos, os governos e forças armadas, tudo de uma tacada só. As grandes potências gastam a maior parte dos recursos em orçamentos militares e precisam de bancos para isso. Imagine você se o mundo inteiro soubesse que pode alimentar todos seus aparelhos e seu próprio corpo com energia limpa e gratuita. Todo esse orçamento mundial se tornaria inútil de uma hora para outra. Algo assim, inimaginável, está em andamento. Agora, imagine você também o desespero de quem prefere que a realidade distorcida continue."

Luciahelena disse...

Seu Antonio,
Todos nós vivemos no entretempos. Querendo decifrar incessantemente o(s) enigma(s) que imperam na sociedade brasileira e no mundo contemporâneo. Principalmente entender a bárbarie que vige neste louco-mundo-louco, cheio de atrocidades, tragédias e desastres de toda a ordem e desordem, com graves consequências no mundo natural e social. A violência material e simbólica, por todos os lados, é a tônica da chamada modernidade dominante. A delicada interação sociedade e natureza, há muito que se rompeu. Um exemplo atual, apenas um exemplo, expressa essa total desconexão e a vigência da cultura do extermínio que se generaliza no mundo e no Brasil.
O exemplo a que me refiro, é o que está na ordem do dia: a alteração do Código Florestal ancorado num dito comunista (que assim anacronicamente se proclama) que ambicionado pelos podres poderes aliou-se aos ruralistas. Se o texto de sua lei passar, esse homem pífio vai ter que acertar contas logo, com a sociedade amazônica e brasileira, com a Mãe-Terra e com o cosmos. Senão, concordo com vc, o mundo já está acabado...
Para não nos deixar (re)encantar pela Vida em todas as suas formas de expressão recorro a linguagem da poesia. Ofereço-te um verso do memorável e esplendoroso Goethe, que deixou infinitas lições a serem aprendidas em sua rica e densa obra.
Lá vai: (só posso colocar esse belo verso, no próximo comentário).
Abraços fraternos,
Lu

luciahelena disse...

Assim recita Goethe para todos nosotros:

"La naturaleza nos ha dejado lágrimas,
el grito de dolor cuanto más no puede soportar el hombre,
y de todo me ha dejado a mí la melodía y la voz
para expresar lo profundo de mi angustia;
y cuando el hombre en su agonía enmudece,
tengo de Dios el don de expresar lo que sufro".

Unknown disse...

Antonio! Ficou lindíssima a Capela do Padrinho... Casamento perfeito entre os elementos naturais, espirituais e estéticos/materiais! Uma beleza... alguri! como diria o NN