O jovem me aborda no terminal rodoviário, entre a chuva e o ônibus, para me perguntar, inicialmente, como vai o PV. Respondo que não tenho intenção de me associar a nenhum partido, apenas vou ajudar Marina Silva no que for possível. Daí passamos a comentar todo tipo de insuficiências do Estado e da chamada sociedade civil diante dos problemas maiores, aqueles grandões, para os quais não há nem mesmo um sonho fugaz de solução.
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Há pouco li um artigo em que fala da obsolescência do Estado. Sim, é verdade, mas não é o único a sofrer desse mal. Há mesmo uma obsolescência do mundo, do pensamento, da civilização, da raça humana. Há uma máquina de non sense ligada e o dia é uma partida de ping-pong entre a ansiedade e a prostração. As pessoas nem sabem por que estão assim chateadas. Qualquer ideologia é tentativa de auto-engano, fuga apressada à depressão, prece balbuciada diante do abismo.
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O que me preocupa é essa estranha mania de me preocupar. Falei ao jovem, antes de entrar no ônibus: o povo se incomoda, se mobiliza e inventa coisas novas, que viram cultura e política. Assim as coisas mudam, Mas depois tudo se acomoda e sobrevém o cansaço. Entramos no refluxo, sem criatividade, insistindo nas mesmas soluções falsas: mais casas, mais polícia, mais petróleo, é assim que estamos agora. Talvez daqui a um tempo apareçam novos caminhos.
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A dificuldade com o Estado é que ele se instala na psique coletiva como uma espécie de Ego, imperativo e inamovível, mediando todas as linguagens ou, pelo menos, tentando estabelecer controle sobre elas. Como o mundo real é muito maior e mais complexo, ficamos sempre com essa sensação de insuficiência: nosso estadinho não dá conta, é areia demais pro seu caminhãozinho. Ficamos, assim, como os governos: caricatos e vulgares no meio de uma propaganda evidentemente enganosa. Fugimos e dissimulamos porque temos vergonha ou, o que é pior, não temos.
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Vi uma proposta de um pessoal em Brasília, chamada Terapia Comunitária. Nem sei bem do que se trata, mas já gostei. Acho que podemos ir recuperando antigas e desenvolvendo novas formas de convivência. É importante que sejam não-institucionais. E que não busquem qualquer objetivo, mas sejam, como se costuma dizer, um fim em si mesmas. Algo assim como as cantigas de roda que as crianças de antigamente costumavam fazer. Por fazer.