15 março 2010

Balanços e tremores

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Um corte na carne, que fica exposta ao risco de infecções, daí a necessidade de tomar medicamentos –antibióticos, agressão direta- que geram desconforto intestinal e conseqüente dor nas costas e retesamento dos músculos do pescoço, instalando assim uma dor-de-cabeça constante, o que resulta num padrão repetitivo de irritação, impaciência e agressividade. É necessário mobilizar o resto de atenção disponível para distinguir, em cada pensamento sobre qualquer assunto, o que provém da lucidez e o que é mal-estar. Não é fácil.

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Ouvi falar, há muito tempo, de um gato esperto de causar admiração: quando lhe davam uma tigela cheia de café-com-leite, lambia vagarosamente todo o leite e deixava o café de sobra. Todos os dias aprendo a lição desse gato, todos os dias esqueço e tenho que aprender novamente.

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Pouca gente percebe a mistura da catástrofe geológica com a insanidade social. Como se a mente nada tivesse com as tripas.

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(Muitas vezes, o esforço para curar a doença é sintoma-reflexo, parte dela.)

5 comentários:

Unknown disse...

É por isso que sempre fui a favor da homeopatia, embora nem sempre consiga lançar mão dela.

Anônimo disse...

Se o procedimento de cura da doença tornou-se seu próprio sintoma, não será o "esforço" de cura ele mesmo A Doença? Se esse "mal estar" tornou-se busca da segurança (cura ?), cujas características são a intolerancia, a ausencia da escuta, a suspeita para com os dissidentes e toda uma ampla ordem desejante de autoritarismos, ordem, o repúdio ao trabalho, ao pobre,as formas variadas de homofobias e sexismos,isso não nos prova o quão deformada se encontra a noção de Humanidade?
Do lado de cá não existe também um intenso cinismo entre as "infecções da carne" e os remédios à venda, não será essa relação pervertida o excesso que marca essas clivagens dos gestos obscenos que nós mesmos temos executado? Não estaremos, todos, loucos para capturar a tigela, com gato e tudo, deixando as tripas expondo nossa própria geologia de medo e alienação, sem com isso nos expormos radicalmente a um devir que só pode existir se for constituido?

seguimos.

velho antonio

Alma Acreana disse...

Caro Toinho,
"Pouca gente percebe a mistura da catástrofe geológica com a insanidade social" essas palavras me soam muito profundas e verdadeiras. Até nos momentos mais cruciais pela qual passa a humanidade, quando deveriam aflorar os mais altos sentimentos, a loucura não deixa de reinar sob a forma da ganância e do egoísmo.

Um grande abraço!

nsmd53 disse...

Toinho, você continua muito pertinente mesmo. Tanto a homeopatia, fitoterapia, medicina oriental, terapias, intervenções e conhecimentos espirituais e até o xamanismo tendem a ser aliados mais fiéis à saúde humana do que a alopatia indiscriminada. Por outro lado, mas correlacionado, os balanços geológicos podem guardar sim relação com muitos outros fatores, inclusive ambientais e sociais. Já há uma tese que relaciona as fases da lua com essas ocorrências. Ou seja, já é algo que relativiza a exclusividade e o voluntarismo das profundezas!!! Nilo

Marisa A. disse...

Todos os dias temos que reaprender... mas dentro da completa insanidade pode-se ter momentos de lucidez? sei lá .. reli o Graciliano, Memórias do Cárcere, muito louco.