A estrada da Terra vai dar no céu, se eu souber andar, se eu parar e respirar, se eu cantar. A estrada da Terra vai dar no céu, se eu olhar onde piso, onde pisei, onde vou pisar. Se eu olhar para todos os lados. Se eu olhar para cima. Porque o caminho não existe sem mim. Na verdade, o caminho existe em mim. Por ele, posso chegar a qualquer inferno da dor e da loucura, posso cair no abismo do nada, posso me perder no escuro, posso dar com a cara no muro. A cada passo, em cada rumo, uma vontade me move. Ao vento lanço meu brado: existo! Sou esta gota de suor no peito, a têmpora latejante, o ar nas narinas. Sou este ombro que aguenta carga e para o qual a carga é leve. Sou o pensamento, a prece, o cansaço, o alívio da chegada. Sou o destino, onde quero chegar. E se eu quiser chegar ao céu, então a estrada da Terra vai dar no céu.
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10 comentários:
Que maravilha de texto. Um primor!
É assim que procuro viver: entre o céu e a terra. É tão bom por os pés descalços na terra (aprendi a fazer isto, após longo processo), receber sua energia, e, conectar-se com nossa realidade interna e externa; mas não abro mão de minhas viagens celestiais, de alcançar o céu viajando nas asas dos pássaros. Sonhos, delírios, utopias, é fascinante viajar com liberdade no imaginário (e no chão), olhando para cima e para baixo. E, de repente, céu e terra se encontram formando uma unidade vital, com múltiplas possibilidades.
Tão bonito que eu tomei a liberdade de postar no Papel de Seda.
Eu, por mim, pegava essa estrada pra nunca mais voltar...
Bj
Estou procurando a estrada,
ás vezes, penso em desisti, outras - como agora por exemplo - respiro fundo e saio correndo, pra não perder mais tempo.
Quando eu achar, eu te conto.
Texto inspirador.
Após algum tempo visitando, tive coragem de comentar. Um Grande abraço.
Essa estrada de terra e o céu,me fez lembrar a minha primeira comunhão com o Daime: a miração era um caminho de terra,onde eu andava querendo chegar e cada vez mais o caminho se estendia e se encontrava com o infinito.Não tinha parada final.
Repentinamente olhei para uma das estantes de minha biblioteca e me defontei com um livro maravilhoso que li neste início de ano. Lembrei imediatamente de ti. O livro se intitula "Filhos do Céu", de Edgar Morin e Michel Cassé, traduzido em português de Portuga pelo instituto Piaget. Tá nas livrarias brasileiras. Creio que tu vais gostar!
Para alcançar a estrada do céu temos que sê-lo - filhos do céu.
Caro Poeta:
Os dias foram amargos, as noites azedas. Esperanças com brilho de lua nova. Peça teatral abaixo da crítica. Mudo cenário, mudos atores. Enfim caiu o pano do primeiro ato. Descobri sobre vivência, que a mais absoluta relatividade – não só pode quem pode, não só cansa quem corre, não só alcança quem anda – é regra geral. Meu referencial havia se perdido no ponto cego do retrovisor. Apesar de tudo, sabia que estava lá e não perdí o rumo. Chego aos poucos, comendo pelas beiras feito papa quente. As imagens também hão de chegar em DVD. Guigui, agora mais centrado- até mais que o pai -, não esquece os amigos e os bons momentos. A vida recomeça, embora timidamente. Maria aguarda cessar o turbilhão das águas pra tentar a revanche pessoalmente. Parabéns pela casa nova e bem decorada. A partir de hoje, as visitas serão mais freqüentes. Tempus fugit? Ainda bem, não?Abs
Talvez o "caminho" seja o próprio homem, trilhado em um universo diferente daquele preconizado por Kant no campo da moral,se ele diz sim a um ideal de comportamento,eu digo não, esse ideal não existe. Interesante então, para entendermos o que está acontecendo no século XXI, seria percorrer a obra de Jacques Lacan e sua crítica ao sujeito cartesiano, que ultrapassou os limites da clínica psicanalítica.
Toinho, essa foto do caminho da Terra é uma revelação. Quantos invisíveis caminham por ele assim na direção do sol, so céu... Eu mesma me vi a caminhar. Linda imagem.
Antonio, não me canso de clicar em seu belo texto de estradas para estar na terra e, a um só tempo, poder atingir o céu. Claro, somente posso fazer nos meus intervalos de tempo; quando estou muito exausta de trabalhar clico nesta belezura e formozura de texto (e de fotos) e viajo.
Eita viajeira...
Mas, já te disse, agora já consigo fincar os pés na terra. Entre o céu e a terra. Vida! Bate comigo.
Gracias por tu nos ofereceres esta pérola! Uma verdadeira jóia.
Abs.,
lu
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