25 maio 2009

Bazar de espelhos

Posso dizer que tenho uma comunidade quando a convivência entre os seres que dela participam -mesmo não estando isolados de outros em outras possíveis comunidades, mas em uma autonomia tênue e relativa- cria uma variação de um código de linguagem, um ego-self coletivo com o qual se identificam e um espaço-tempo no qual se sentem "do lado de dentro".

Não se fica, assim, liberto ou distante da "realidade" dos padrões institucionais dominantes e dominados pelo grande mercado de identificações, da multidão, das mídias, do consumo, das máquinas econômicas e políticas, mas pode-se viver um pouco de vida própria: noções de tempo, afetos, preferências estéticas, ética, em tudo se pode criar moldes alternativos e mais íntimos, menos tensionados, menos conflitivos. Na comunidade, o viver pode ser tranquilo.

Pode, mas nem sempre é. Os riscos são permanentes e não vem apenas de fora, pelas tentativas de enquadramento do "sistema", mas pela ansiedade que nasce dentro, a partir do desejo de adequação de indivíduos e subgrupos aos padrões de excelência e vantagem, às oportunidades que vislumbram tanto na feirinha quanto no supermercado das identidades: afinal, todos querem ser.

O que vale para grupos, vale para cada um. Os espaço-tempos do mundo lá fora, da comunidade ou dos subgrupos existe no ser de cada ser e acontece na relação de uns e todos. Resumindo: corrigir os outros é me corrigir nos outros.

2 comentários:

Márcia Corrêa disse...

E é tão complicado ser, por isso aí reside a questão.

luciahelena disse...

Antônio,
Não pude me pronunciar antes, mas gostei deste teu texto que foca a relação eu e outro, nós e a comunidade, nós e o mundo. Gostei. Gostei muito da última frase:"corrigir os outros é me corrigir nos outros".
Abraços,
luelena