08 junho 2009

Baladeiras

1. Na semana passada olhei o tempo e vi os faveiros florando pela metade. Um galho amarelo de flores, outro ainda verde em folhas. Meio verão, meia vida, até as árvores tem problemas de identidade -que tempo, esse! Depois do vento, espera-se a firmeza dos dias e a frieza das noites, o caminho de São João aberto, a mensagem das estrelas. Mas ainda é necessário estar atento para os movimentos que sustentam o céu e os que querem vê-lo desabar.
2. Minha líder, Marina Silva, anuncia que as coisas vão piorar e promete ao mesmo tempo em que convoca: "resistiremos". Voltamos, então, aos tempos da resistência. Pois que seja. Não quero saber de políticas, mas minha velha baladeira ainda está pronta para brincadeiras de tropa e caverna. Não lamento o fim do mundo, não tenho tempo para ressentimentos nem paciência para mesquinharias. All we need is love, diziam aqueles rapazes de Liverpool. É o que importa. Com alegria tranquila olho o mundo deste lugar onde sou. Encontro firmeza no balanço. E ainda sei assar palanquetas.
3. Deixo a Terra desolado, sem notícia do Rapaz. Vizinho disse que foi atropelado na estrada, onde vadiava. Andei mesmo sentindo arrepios no caminho e ouvindo barulhos estranhos na varanda. Se tiver partido, que esteja feliz naquele mundo amplo e estranho do não-tempo, embora minha tristeza de homem velho que já perdeu tantos amigos. E além do mais, isso não é hora de ficar sem cachorro.

5 comentários:

Luelena disse...

Antonio,
Neste momento de total desmonte da política ambiental brasileira pela bostarada toda que só trazem o enorme fedor ao Brasil (ruralistas, parlamentares e governantes) produzindo retrocessos históricos de grande vulto para a Amazônia e para o país, resolvi, hoje, silenciar e respirar outros ares ainda que com certa dor. Interrompi o trabalho em plena segunda e fui a médica ayurvedica (já pratico essa forma de medicina)há alguns anos, sem entrar na moda pausterizada da novela), massagear meu corpo, meus chakras e me harmonizar internamente. Estou leve neste momento, quase voando como uma pluma... Em que país estamos, ou sempre estivemos, tenho a sensação que quase nada mudou, nada!... êpa, é hora de viajar nas asas dos pássaros...
Abraços cordiais,
Luelena

Lulih Rojanski disse...

Toinho, eu acredito: All we need is love...

Márcio Chocorosqui disse...

A Internet é uma coisa maravilhosa. Finalmente a tenho em casa e estou descobrindo muitas coisas boas. Entre elas, o blog do Toinho Alves. Parabéns!

P.S.: Daqui a pouco chegam as queimadas. As mudanças climáticas nos atingem impiedosamente, na pele.

Anônimo disse...

Dizia o Velho Antonio que a liberdade tinha haver também com o ouvido, a palavra e a observação. Que a liberdade era quando não tivéssemos medo da observação e da palavra do outro, do diferente. Mas também que não tivéssemos medo de ser observados e escutados pelos outros. E logo acrescentou que se podia cheirar o medo, e que abaixo e acima esse medo expelia um odor diferente. Digo mais, que a liberdade não estavam em um lugar, e sim que havia que fazê-la, contruí-la em coletivo. Que, sobretudo, não se pode fazer sobre o medo do outro, pois por mais que ele seja diferente, é como nós.

Anônimo disse...

Ninguém tem o direito de nos meter medo, ninguém tem o direito de não amar, de passar por esse mundo e não passar. Ninguém tem o direito de viver sem dor. Ninguém tem o direito de recusar calor. Ninguém tem o direito de não sorrir, ninguém tem o direito de não partir, de não ficar, de ir ali, de cá voltar...tudo passa, tudo vai, tudo volta. O mundo é um circulando só...