16 agosto 2010
Sede sem sede
Que só quando cruza a Ipiranga
Em trânsito
Marina, assim você me desarruma a vida. Além dessas viagens madrugada adentro e do trânsito fascinante de Sampaulo, tenho o desgosto de verificar que ninguém toma conta do Acre na minha ausência e a coisa fica uma bagunça. Fumaça de cortar com o terçado, já dava pra ver -pra não ver, aliás- do avião. Acho que o pessoal ouviu dizer que o "novo código" vai dar anistia pra incendiário. Um montão de coisa pra fazer, tudo pra lá de atrasado, duas moedas de 5 centavos no bolso, dívidas e dúvidas multiplicadas, as plantas morrendo de sede, caçadores invadindo a Terra atrás das capivaras... ah, se eu fizer a lista você vai ficar com dó. Pra completar, perdi a chave de casa -e talvez fosse melhor nem ter entrado pra não ver esse acúmulo histórico de desarrumações agora agravado pela mala desfeita às pressas.
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Mas valeu a pena. Deu gosto te ver cada vez mais elegante e afiada, estrela brilhando no céu do Brasil, arrastão de esperança, superação permanente, professora do essencial, cuidando do que importa. Pela calma que conquistas a cada instante de tempestade, pelo brilho no olhar, pela busca da palavra, por alguns milhões de sonhos, pela real realidade, por tanto aprendizado, pela grandeza da alma, por tudo e mais alguma coisa, valeu e segue valendo entrar no movimento sem pré-ocupações ou cálculos de resultados. Ah, eu não perderia por nada no mundo.
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Além do mais, até mesmo um pai ausente tem presente que espera: o menino me deu um sapato novo e macio para bailar, a menina vai me dar trinta dias de serviço como assistente de cronista. Um luxo desmerecido, pois não. E com amor renovado se faz tudo no maior gosto, espanta-se o atraso.
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Marina, dia desses vou de novo -nem precisa chamar. Pego a estrada, sigo o impulso, confio na harmonia que há de nascer em teu ritmo. Quero mesmo é vida nova.
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A vida velha, nem ligue. Bote pra desarrumar.